Saímos do Centro Cultural Borges em direção ao Caminito, antiga zona de prostituição no bairro do Boca, às portas do estádio da Bomboneira, do Clube Atlético Boca Juniors, esse terror da Libertadores da América, seis títulos, carajo!... Uma área pobre de casas coloridas que abriga restaurantes, brechós, antiquários, show de tango pelas ruas e restaurantes, barraquinhas de venda de suvenires diversos em torno da cultura portenha e argentina e toda sorte de comércio que possa interessar ao turista como nós. Ávido por lembrancinhas e bobagens.
Eu, particularmente, queria encontrar quadros que pudessem representar para mim aquela primeira visita. Muitos pintores e artistas plásticos em geral expõem em Caminito, não entendo nada de artes plásticas, mas gosto muito, queria quadros que contivessem certa singularidade, personalidade e marca pessoal. Acabei me fixando em três. Claudio Scheffer, Mabel K*** e Francisco L***. Travei contato com o Claudio, marido de Mabel, um sujeito bom de papo e com um trabalho muito interessante, trinta anos de pincel não são trinta meses, né? Várias exposições e prêmios no currículo. Em qualquer oportunidade futura, quero adquirir um óleo de sua autoria.
Mas, se houve algo em Caminito que bagunçou com a minha cabeça foi um misto de antiquário e brechó em que entrei, depois dos trilhos do trem, onde se misturava de tudo à venda. Vestidos, louças, penteadeiras, candelabros, panos de mesa, porcelanas, faqueiros, frasqueiras, mesinhas de cabeceira e... fotografias de famílias...
Aproximei-me da mesa onde elas estavam amontoadas e fiquei olhando as pessoas congeladas em suas poses, suas alegrias, seus trajes, a época a que remetiam e tentando entender quem e por que compraria aquele tipo de registro, se é que alguém compraria... em seguida, comecei a compreender que, na verdade, as fotografias só fazem sentido, de fato, quando estamos dentro delas, de alguma forma, mesmo que simplesmente olhando-as.
Nenhuma daquelas pessoas fotografadas e suas fisionomias eram reconhecíveis para mim e o fato de serem pessoas, não era suficiente para me fornecer um sentido, eu olhava com estranheza, embora pudesse entender que para alguém, em algum momento, elas foram importantes e plenas de significado, mas, ali, naquele instante, ou talvez para sempre, jogadas como estavam, destituídas como ali se encontravam, já perdidas no tempo, elas não conseguiam ser muito mais do que restos de lembranças.
Aquilo me aturdiu um pouco e igualmente me entristeceu por perceber como somos fugazes a nós mesmos, como caminhamos para simplesmente perder o sentido e deixar de existir... ao fim e ao cabo, todas as fotografias tiradas no mundo terão aquele mesmo destino...
A velhinha que tomava conta do lugar, sentada à sua cadeira, sorria levemente à nossa passagem, mais ou menos como eu faria se fosse o Tempo.
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