Na manhã do segundo dia, finalmente, pude ver a Plaza Libertad, e me surpreendi que não estivesse iluminada na noite anterior, pois é belíssima, o sol estava radiante e nós aproveitamos para cruzar por dentro de seus jardins. Repetíamos de certa forma o caminho, de novo 9 de Julio, Córdoba em direção à Galeria Pacifico, um shopping center, onde fica o Centro Cultural Borges.
Passava pouco das dez horas da manhã e uma pequena fila se formava à bilheteria para uma exposição. Na vitrine de livros, Borges & Cortázar reunidos me faziam pensar em uma literatura, a latino-americana, para a qual jamais dei a atenção devida. Li pouquíssimo Borges e nenhum Cortázar, até aqui, se quer saber. E Juan Carlos Onetti é um grande escritor, para mim, pelo simples fato de que leio o seu Vida breve sem compreender quase nada e, ainda assim, persisto. García Márquez e Vargas Llosa, diferentemente, são autores com os quais tenho mais intimidade. Neruda, alguma, bem pouca. Gabriela Mistral? Sei nada! Otávio Paz e os mexicanos? Nada ainda. Galeano? Nada nunca.
E na música não foi diferente também. À exceção de Piazzola, um pouquitito de Fito Paez via Caetano Velloso e seu disco Fina Estampa, algo da canção cubana via Buena Vista Social Clube e eventuais convidados nos discos de Chico Buarque, a impressão que tenho é de que a música latina, pra mim, em geral se resume a bolero, salsa, merengue, esses ritmos festivos e extrovertidos, sem maiores conhecimentos de sua história, a história de uma canção tão próxima e tão influente em meu próprio país. O samba-canção, por exemplo, é um bolero mais embaixo, eu diria...
Percebo que por trás dessas constatações algo lamentáveis das minhas lacunas e fraturas latino-americanas está um certo isolamento brasileiro, não só em relação aos vizinhos bem como à comunidade internacional, pois a maior parte dos escritores de língua espanhola acima citados são de conhecimento da opinião pública mundial, residentes globais, já os nossos não avançam além das fronteiras pátrias e até aqui não se fizeram impor ao reconhecimento universal e nem mesmo latino-americano. Haja vista essa história dos Nobel de literatura. Chile 2. Colômbia 1. Peru 1. México 1. Brasil nenhum, tendo no plantel um Drummond e um João Guimarães Rosa, que é uma espécie de realismo fantástico semântico em si mesmo. Ora... percebo que não sou só eu o ensimesmado...
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