San Telmo
Em San Telmo, bairro consagrado à quinquilharia, tive a impressão de que a feira de antiquário, aos domingos, um evento gigante que se esparrama por mais de dez quarteirões, corresponde por inteiro à falência da aristocracia portenha, em vista da alta qualidade das peças à venda...
Na calle Defensa, no interior da Casa de los Ezeiza, de arquitetura italianizante, com varandas nos dois pavimentos e muitos quartos transformados em brechós, ateliês e outros pontos comerciais, tocava Odara, na versão original do próprio Caetano Veloso, quando ali cheguei.
Um velho artista do traço, de aparência derrotada e olhos um tanto desesperançados, aguardava sentado a um banco, a um canto do pátio, com lápis e bloco de papel à mão para compor caricaturas ligeiras dos visitantes em troca de um qualquer; sua visão doeu em mim, por algum motivo, senti os nossos destinos possíveis afins.
Tentei fotografá-lo do segundo andar para este ensaio, todavia ele percebeu o meu movimento com a câmera, olhou-me nos olhos lá debaixo, no exato instante em que ia apertar o botón de disparo, e aquilo me inibiu por completo, senti-me invasor de sua privacidade e recuei...
Mais tarde, percorrendo as ruas estreitas do bairro, tomadas de barracas e uma multidão de turistas de toda parte do globo, entre tangos e milongas, irrompe uma batucada brasileira observada com entusiasmo pelos passantes, alguns arriscavam passos. Mais uma vez, pensei a respeito do que quer dizer essa história atual de o Brasil estar em alta no mundo...
Ao contrário disso, comprei um disco caseiro de um violonista chamado Gastón Vinelli. Ele tocava no passeio de la Defensa com sua caixinha amplificadora e a barraquinha com três dos seus títulos. Escolhi o de mais temas argentinos e uruguaios, mas nos três sempre figurava um ou mais temas brasileiros também; neste que trouxe, ouve-se a interpretação de Gastón para Sons de Carrilhões, de João Pernambuco.
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