Ainda antes mesmo do Flores chegar da fábrica, dei uma olhada no estúdio no material que já tinha gravado e concluí que não faltava muito para fechar mais dois álbuns: o Archeiro, um projeto de 2004 que não dera muito certo, e o Samba de roça.
Voltei à carga com Marcio por sua participação. Agora, só por email.
Minha caixa de correio eletrônico está cheia daquelas mensagens impessoais, algumas lindíssimas, outras que me provocaram boas risadas, mas as respostas e trocas de figurinhas pessoais são mais escassas, embora afetuosas, telegráficas e animadas. Uma que me emocionou, na pesquisa para esse texto, trazia em anexo fotos do Daniel, seu caçula, vice-campeão brasileiro de karatê na sua categoria. Arujá (SP), 2009.
Quando ele não respondia de pronto, só me restava aguardar um pouco, respirar, repensar, cuidar de outras coisas e retomar o contato, o que consome exatamente a nossa mais preciosa substância, tempo. Algo que só percebemos com extrema e cruel clareza, e mesmo assim muito tenuamente, nos nossos encontros com a morte...
Como disse lá no início, eu não tinha intimidade com o Marcio pra ficar ligando pra sua casa em Juiz de Fora e dando esporro porque ele não tinha tempo pra gravar comigo. Quem me dera! Também não é o meu estilo forçar nada. Insistir, sim. E insisti que ele participasse dos próximos trabalhos.
Ele concluiu que a alternativa mais viável seria mesmo realizar as gravações em casa e me enviar os arquivos via web. Ótimo, respondi.
Ótimo nada, toda essa praticidade digital suprime na verdade boa parte do convívio gratuito de onde tiramos energias impensadas que nos chegam de forma casual e a consolidação das amizades, vamos cada vez mais cerrados em compromissos e agendas, rotinas que por mais interessantes até que sejam tiram um pouco a graça das coisas. Como levar em conta o grande Johnny Alf e permitir que o inesperado faça uma surpresa?...
Quando enviei os demais arquivos de audio, que incluíam sambas e uma bossa, uma pergunta de volta foi tão impactante que sequer me toquei na hora:
O contrabaixo acústico, acredito, foi uma decorrência natural do seu encontro com o Marcio Hallack, num trio jazzístico que começava a deslanchar em Minas e abrir-lhe novas perspectivas, num momento muito harmônico da sua vida profissional e em família. O xará pianista não desmente a euforia do meu email, e fala com conhecimento, diz ele: "Era determinado. Já era muito bom no contrabaixo elétrico e tornou-se um exímio contrabaixista acústico".