No velório

Na manhã de quarta-feira, ainda bem confuso, levantei, fiz barba, tomei um banho para dar coragem e segui para o velório. Lá, me apresentei à Silvia.

Você é o Arnaldo, reconheceu-me de pronto ao lhe dizer que não me conhecia, mas que eu era um grande admirador do seu marido e que gostava muito dele.

Choramos juntos.

Na segunda-feira, ela disse, peguei 360°, do Fernando Meirelles, pra assistirmos à noite e quando o filme acabou, ele ainda comentou que a música que estava tocando era parecida com as suas levadas, na coisa da letra...

Choramos mais.

Ele me mostrava as coisas que fazia para as suas canções, disse. Aquilo me consolou.

O nó no peito afrouxou um pouco depois das lágrimas derramadas por trás dos óculos escuros, à soleira da capela. Ao me afastar, confirmei com ela o horário do sepultamento.

À uma hora. Vou esperar o Mateus chegar, o mais velho. Tenente do Exército brasileiro servindo no Oiapoque.

Prontifiquei-me a lhe mandar as gravações que tenho (são seguramente algumas das últimas do Marcio Klein tocando os dois tipos de contrabaixo) e me senti motivado a prestar esse pequeno tributo a um grande artista e um bom amigo, apesar de nossa pouca vivência. O que mostra, uma vez mais ao meu coração, a força do sentimento e sua incrível transcendência.

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